segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dor e Marlboro Light.

Fumando um cigarro que não queria, Katharine caminhava na Angeles Boulevard sem determinar algum rumo. Era fim de ano. Os grandes prédios de nomes importantes competiam entre si para ver quem tinha a decoração mais apaixonante e natalina, divertindo as famílias que faziam questão de presenciar aquele show de luzes coloridas no breu da noite. Era quase onze horas e céu estava coberto de estrelas. Engraçado como as estrelas parecem ter mais brilho quando o nosso está em falta. Ouviam-se violinos. Noite amarga de sexta-feira. Acabará de assistir a peça de teatro da qual ansiará durante um mês. Talvez ela fizesse menos sentido se cada encenação não fosse tão biográfica. No final entrelaçava as pernas ao sair do auditório, embargada de magoa. Renderia ressaca no dia seguinte.
Seus olhos ainda ousaram percorrer na saída do Light Theater, tinha a suave camada de esperança adoçando seu paladar de que encontraria aquele corpo esguio, escorado de braços cruzados em frente à estação de metrô. Então ele a pediria perdão, ela talvez tentasse negar silenciosamente para somente dizer a si que tentou, mas na verdade estava cedendo mesmo antes de vê-lo. Ele a levaria para casa, e então fariam amor a noite toda, a madrugada inteira e quando acordassem, praticariam esse ato cheios de sede novamente e tomariam café juntos. Mas ele não estava lá. E acredite, o que ela viu foi uma porção de casais iluminados pelas luzes dos prédios e pareciam muito felizes, só porque ela não era.
Agora, no segundo cigarro indesejado, proporcionava a si algumas opções do que fazer aquela noite; talvez um bar, a ultima sessão de cinema ou talvez a guia de um carro fortemente contra sua cabeça. De preferência um Porsche, por mais que a desgraça seja profunda e intensa jamais desejaria que o fim de sua vida fosse com o crânio sob o pneu liso de uma Chevette.
Ameaçou entrar em três bares. Pensou sentir dois cheiros iguais ao dele. Perderá a conta de quantas vezes desejou morrer.
Katharine se deu ao luxo de encarar todos os rostos quando atravessava as cumpridas ruas da avenida, almejava encontrar aquele rosto. Chegando do outro lado, ria de si mesma, julgando completamente patético aquele ato em vão.
Mas uma coisa era certa, seu nariz estava sempre erguido, seus olhos sempre calculistas por trás daquelas lentes grossas de uma miopia precoce. De fato as lágrimas rolavam, sim, e manchavam a maquiagem feita exclusivamente para esconder qualquer traço que alegasse algo como tristeza, magoa e melancolia.
E se ela ligasse de uma cabine telefônica pedindo perdão por algo que ela não fez? “Me perdoe. Me leve com você”, talvez bastasse para que sua próxima respiração fosse menos pesada e secasse a próxima lágrima. Mas lembrou que o papel azul marcava o telefone dele estava sobre a mesa do seu quarto. Katharine sabia que não havia errado em nada. Havia depositado toda sua alma e seu ser no ser dele para que tudo fosse correto, numa interpretação diferente de coisas corretas.
Tudo bem; foda-se, a noite já estava perdida. Só queria que seus passos tivessem algum rumo. Só isso.
Uma caminhada longa até lugar nenhum. Sumiu na noite com um vácuo no peito. Dois maços de cigarros indesejados.

2 comentários:

  1. Dor e Hollywood Vermelho

    Fumando um cigarro que queria, Arthur caminhava por sua casa, perdido e solitário. Familiares ao seu lado eram invisíveis e estranhos aos seus olhos, mas permaneciam lá, divertindo-se com luzes coloridas propagadas por uma televisão na escura sala de sua casa.

    Arthur, ao contrário deles, apenas aguardava ansioso diante do seu computador, de olhos atentos e esperançosos, algo lhe dizia que ela chegaria há qualquer momento. Era sua única maneira de comunicar-se, então aguardaria quanto tempo for, até o esperado retorno. Ele queria telefonar, mas não ousava, ela estava divertindo-se, assim ele imaginava, assim ele queria.

    O desejo, no entanto, permaneceu lá, horas à fio, afoito, e sem pronunciar uma única palavra. Perdeu as contas de quantas vezes retornará da varanda após um cigarro, um singular vício que aplacava sua ansiedade e angustia por poucos minutos, mas não naquela noite.

    Aquela noite, eterna e solene, não lhe renderia segundos de paz. Memórias traziam-lhe conforto, e igualmente agonia, sentia o perfume e o doce toque das estrelas, mas a sua não estava lá. Por um momento, julgou-se insano, embora, no fundo, estava ciente do que se tratava. Precisa de mais...

    Recordou-se, então, que "nem tudo estava perdido". Sorriu, não queria chorar, não sozinho, afinal está é a canção que ela gosta. Caminhou até o seu companheiro, o computador, e procurou. Acompanhado de Coldplay, escolheu "Everything's Not Lost", a noite já estava perdida. Só queria que seus pensamentos tivessem algum rumo. Bastaria.
    Uma viagem longa até lugar nenhum. Invisível na sala e com um vazio no peito.
    Dois maços de cigarros "desejados"...


    ,By Daniel.

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  2. Parabens pelo belo texto.

    Aos dois.

    Em sua completude invejável!

    Abraços e até o próximo post.

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